quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Apresentação do blog


“Candongas não fazem festa”? Qué isso?

     Mais um blog sobre literatura, artes e cultura... outro? Outro. E mais outro do que um. Um blog, talvez, que não reconheça bem a si mesmo, e que esteja empertigado, encanado com essa coisa de ser igual a si. Bong, ploc? Ele desconfia disso, e por todo lado surgem-lhe convites para que chute essa tralha para o alto. Haverá ele de chutar? Questão do século...
     Tronc. Candongas não fazem festa chegou perplexo e assim ficará. Quem será? Não sabemos. Não somos do povo do ponto final. Não começamos a partir da certeza (mas algo sabemos). Começamos a partir da dúvida, da interrogação perplexa e desvairada. Não começamos de algum lugar no centro, mas sim de um ponto qualquer na beirada, e juntando fiapos queremos ver se aparecem figuras mais reconhecíveis, sobre as quais possamos falar, falar, falar, ou mesmo silenciar, com nossas vozes de permeio. Quem serei? Não sei: somos do povo da interrogação. Glot?
     Mas Candongas não fazem festa não é apenas desvario. Também tem, mas é só um pedaço. Nossa voz se dirige à sensibilidade e ao debate (onde eles existam), nos propomos aqui a usar a tecnologia da razão instrumental em favor da divulgação da arte e das discussões críticas sobre as questões da arte, da cultura e da sociedade onde elas subsistem – ou mínguam. Estamos atentos à lição do velho Tinianov, que dizia que o sentido das obras de arte se relaciona muito de perto com o contexto que as rodeia (a “série extra-literária”). E, no Brasil, haja contexto que as rodeia. Assim, da mesma forma que nos propomos à discussão das obras, sua organização e significado, também contemplaremos a entrada do mundo e de suas coisas em nossos textos, pois criação da obra e construção da realidade convivem solidárias, em trancos barulhentos.
     Com tal ideia fixa serpenteando em nossas mentes, elegemos Machado como nossa interrogação primeira, como nosso primeiro totem. Imaginamo-lo andando pelas ruas daquele Rio de Janeiro do século XIX, capital do Império (escravista)do Brasil, lúcido demais, desvairando tresloucado ante as quiçá terríveis visões que divisa, em seu pensamento, acerca dos porões da alma humana, e do que o pedaço de terra dito brasileiro trouxe para decorar esses porões, que flutuam no ar. Para além da hipocrisia, da alienação, da ignorância, dos discursos e falas vazios, da dissimulação do ódio e do desejo de poder, da subserviência cínica, da arrogância e prepotência estúpidas, a nós vem o interminável desfile, a que o mestre reage ajeitando o pince-nez.
     A ele solicitamos o nosso nome, declinado sobre anjos velozes do tempo vertiginoso, como uma esfinge de cuja pergunta ninguém mais se lembra, embora ainda doa. Nome que vem em meio a tantos outros no meio do batuque e do caos, dançando, chacoalhando, esfregando-se e convulsionando-se, ao inventar a ilusão e a desilusão de si mesmo, prestes a se despedaçarem mutuamente. Candongas não fazem festa não significa nada. Mas populariza-se logo.

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