terça-feira, 16 de abril de 2013

Barão de Itararé MONÓLOGO

Rubens: "Sileno embriagado"


MONÓLOGO


    Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque senão...
   - Assim seja! Seja feita a vossa vontade – disse eu, humildemente, e comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.

    Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo que bebi.
    Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo que virei.
    Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia com exceção de um copo que empinei.
    Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa que bebi.
    Apanhei a quinta rolha na pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
    Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
   Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.

   Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito de acordo com as ordens de minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
   Segurei, então, a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram, ao todo, exatamente 39. Para me certificar de que não havia engano contei tudo outra vez e quando terminei já encontrei um total de 93, o que dá certo, quando as coisas andam de pernas para o ar. Como a casa nesse momento passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para controlar minhas contas e recontei todas as casas, copos, rolhas, pias e garrafas, menos aquelas duas que escondi no banheiro e que eu acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca...


Barão de Itararé




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