Há vários anos vem circulando na rede um
texto que aborda técnicas políticas de manipulação das massas, praticadas
sobretudo pela mídia. O texto é frequentemente atribuído ao linguista e
ativista norte-americano Noam Chomski, intelectual ativo nas críticas e
denúncias das artimanhas da política conservadora de seu país e do capitalismo
internacional. Entretanto, na verdade, ele foi escrito e publicado pela
primeira vez em francês, no ano de 2002, pelo sociólogo francês Sylvain Timsit,
e expressando uma crítica politicamente vinculada ao pensamento da chamada
“extrema esquerda” francesa. No link http://www.legrandsoir.info/A-propos-des-dix-strategies-de-manipulation-de-masses-attribue-a-Noam-Chomsky.html,
o cientista social francês Jean Bricmont publica um desmentido à autoria do
texto, acompanhado de trechos de entrevista com o próprio Chomski, em que ele
afirma não ser o autor, embora observe que o texto pode ter alguns de seus
escritos como base. Mas há aspectos, como por exemplo no item 10, que se
afastam das ideias de Chomski: enquanto Timsit defende que o sistema usa o
conhecimento científico para controlar as pessoas, Chomski acredita que o
conhecimento realmente científico do ser humano é muito limitado para que possa
ser usado com tal objetivo. Para Bricmont, o texto é uma simplificação do
pensamento de Chomski a respeito do assunto:
“O sucesso aparente desse texto ilustra
bem a má compreensão do pensamento de Chomski a propósito da ‘manipulação’,
tanto entre partidários como entre adversários dele. Lui e Ed Herman,
co-autores de ‘A fabricação do consenso’ (2008), não sugerem em nenhum momento
que existe em algum lugar uma organização oculta que ‘manipula as massas’. Eles
mostram que existe um certo número de filtros, ligados à propriedade privada
das mídias, à necessidade de publicidade, à ação de grupos de influência etc.,
que têm como resultado que a visão de mundo veiculada pelas mídias seja
extremamente enviesada, mas tudo isso funciona um pouco como a ideologia em
Marx, um processo sem sujeito.” (Bricmont)
Para nós, independentemente de se concordar
ou não com todos os itens do texto, e mesmo que ele contenha exageros, Timsit
caracteriza bem a ação que os meios de comunicação exercem sobre o universo
social e cultural. Embora a realidade na França possa ser outra, aqui no
Brasil, a estas alturas, já se pode identificar uma conspiração organizada pelos que detém a propriedade das mídias (são apenas meia dúzia de grupos econômicos que dominam o mercado), junto a grupos da direita política, para exercer o domínio sobre a
sociedade, levando-os a coordenar suas
ações, de modo explícito, no sentido de concretizar várias das estratégias listadas por Timsit. Em
virtude do interesse levantado pela discussão, publicamos aqui o texto
traduzido diretamente do francês, a partir da publicação original no link http://www.syti.net/Manipulations.html,
e restituindo a autoria desse texto a quem é de direito.
Observação:
citado várias vezes por Timsit, o texto “Armas silenciosas para guerras
tranquilas”, datado de 1979, é um documento encontrado por acaso em 1986 em
meio a equipamentos leiloados oriundos do exército norte-americano, e que se
apresenta como um “manual técnico” para promover a manipulação das massas
através de meios de comunicação. Não possui assinatura ou indicações de onde
provém, e não se sabe se foi achado realmente por acaso, por falha de
segurança, ou se foi plantado intencionalmente por algum motivo, ou se é apenas
uma burla. Suspeitas sobre sua autoria o remetem ao Clube Bilderberg, reunião
periódica de grandes empresários e líderes políticos, destinada a fortalecer a
OTAN, e que os mais imaginativos ligam a uma conspiração mundial para dominar o
mundo. Essa informação acentua o viés “conspiracionista” do texto de Timsit,
embora ele mesmo não fale nesses termos em seu texto. Aqui deixamos de lado a
conspiração mundial, na qual não acreditamos (ela não é de fato necessária), e
preferimos levantar a bola para um debate sério a respeito do assunto.
ESTRATÉGIAS
DE MANIPULAÇÃO
As
estratégias e as técnicas dos Donos do Mundo para a manipulação da opinião
pública e da sociedade
1- A estratégia da distração.
Elemento primordial do controle social, a estratégia da distração
consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das
mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, graças a um dilúvio contínuo
de distrações e de informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o
público de se interessar pelos conhecimentos essenciais na área da ciência, da
economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.
“Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas
sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado,
ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os
outros animais.” (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)
2- Criar problemas, depois oferecer soluções.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um
problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de
que ele mesmo reivindique as medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo:
deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar
atentados sangrentos, a fim de que o público exija leis de segurança em
prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para se fazer
aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o
desmantelamento dos serviços públicos.
3- A estratégia da gradação.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente
aplicá-la progressivamente, “em degradado”, sobre uma duração de 10 anos. É
dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido
impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precarização,
flexibilização, realocações de trabalhadores, salários que já não garantem uma
renda decente, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem
sido aplicadas de forma brusca.
4- A estratégica do adiamento.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de
apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública no
presente para uma aplicação no futuro. É mais fácil aceitar um sacrifício
futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é
empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a
tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o
sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para se
acostumar com a ideia da mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o
momento.
5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso,
argumentos, personagens e um tom particularmente infantilizante, muitas vezes
próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou
um deficiente mental. Quanto mais se intente enganar o espectador, mais se
tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?
“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos,
então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta
ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12
anos de idade” (do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).
6- Fazer apelo ao emocional muito mais do que à reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um
curto-circuito na análise racional, e por fim ao sentido crítico dos
indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a
porta de acesso ao inconsciente para aí implantar ideias, desejos, medos e
temores, compulsões, ou induzir comportamentos…
7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os
métodos utilizados para seu controle e sua escravidão.
“A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a
mais pobre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as
classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça incompreensível
para o alcance das classes inferiores” (do texto “Armas silenciosas para
guerras tranquilas”).
8- Encorajar o público a se comprazer na mediocridade.
Encorajar o público a achar “cool” o fato de ser estúpido, vulgar
e inculto…
9- Anular a revolta através da culpabilidade.
Fazer o indivíduo acreditar que ele é o único culpado pela sua própria
infelicidade, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas
capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de se rebelar contra o
sistema econômico, o indivíduo se desvaloriza e se culpa, o que gera um estado
depressivo do qual um dos efeitos é a inibição da sua ação. E sem ação, não há
revolução!
10- Conhecer os indivíduos melhor do que eles próprios se conhecem.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os progressos fulgurantes da
ciência criaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles
possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à
neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” chegou a um conhecimento
avançado do ser humano, tanto fisicamente como psicologicamente. O sistema tem
conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele conhece a si mesmo. Isso
significa que, na maioria dos casos, o sistema detém um maior controle e um
maior poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.
Sylvain Timsit
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