SONÊTO
Filhós, fatias, sonhos, mal-assadas,
Galinhas, porco, vaca, e mais carneiro,
Os perus em poder do Pasteleiro,
Esguichar, deitar pulhas, laranjadas.
Enfarinhar, pôr rabos, dar risadas,
Gastar para comer muito dinheiro,
Não ter mãos a medir o Taverneiro,
Com réstias de cebolas dar pancadas.
Das janelas com tanhos dar nas gentes,
A buzina tanger, quebrar panelas,
Querer em um só dia comer tudo.
Não perdoar arroz, nem cuscuz quente,
Despejar pratos, e alimpar tigelas,
Estas as festas são do Santo Entrudo.
Gregório de Matos
Observações sobre o
vocabulário do poema:
Filhó: biscoito ou bolinho feito de farinha e ovos, frito, e, em seguida, passado em mistura de açúcar e canela ou molhado em calda aromatizada de mel.
Fatia: rabanada.
Sonho: doce feito com
massa cozida de farinha de trigo, ovos, leite, frito em gordura e geralmente
polvilhado com açúcar e canela.
Mal-assada: Fritada
(espécie de omelete).
Pulha: brincadeira
maliciosa e de mau gosto que consiste em ato de zoar uma pessoa, levando-a a
fazer perguntas cuja resposta reverte em escárnio dela mesma (tipo “Quem é? É o
Mário. Que Mário? Aquele que te pegou atrás do armário.” e por aí afora).
“Deitar pulhas” aparece com o sentido de fazer, aplicar pulhas.
Tanho: assento de
tábua.
Entrudo: festejos
realizados no Brasil colonial e imperial, que se transformaram no atual
carnaval. O Entrudo de que nos fala Gregório de Matos ocorreu em Salvador (ou
“Cidade da Bahia”, como se dizia na época), por volta de 1690.
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